domingo, 18 de julho de 2010

Além da curva da estrada...

        
          Nas últimas semanas fatos perturbadores rodearam a mim, alguns amigos e a minha família. Situações que chegaram de surpresa e causaram sofrimento, angústia. Alguns chegaram a ter a esperança abalada.

          Apesar de ter vivenciado e compartilhado esses momentos, me esforcei para pensar no que estava por vir, para ter fé no movimento da vida. Algumas coisas já começaram a clarear, boas novas chegaram... e é incrível como os fatos desconfortáveis chegam para movimentar a vida para melhor, mas o melhor só chega se estivermos dispostos a abrir mão do que já não nos tem serventia.

          Penso que uma boa parte do sofrimento vem da angústia de não saber o que vem depois, e de tentar prever isso. Sofrer pelo que ainda não existe. Essa é a minha luta eterna...

          (e de tantos outros!) 

          A poesia tem o dom de tocar nossas emoções eternamente. Podemos ler o mesmo poema todos os dias, e de alguma forma ele vai conversar conosco. Fernando Pessoa tem um que me conforta nesses momentos de ansiedade, sempre estou recorrendo a ele, como uma forma de me forçar a voltar à racionalidade.



Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui só há a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

Alberto Caeiro
(Fernando Pessoa)





Um comentário:

  1. Pois e minha irma...

    Parte da dor vem por nao saber o que ha depois da curva.

    Mas doi tambem fazer a curva e deixar tanta coisa pra tras.

    Quisera eu ser sabia o bastante a ponto de nao me preocupar com o depois, nem sofrer pelo o que ficou.

    A poesia nao poderia ser mais adequada que essa!
    Adorei!

    =)

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